Ninguém gosta de campanhas políticas
Felizmente, estamos num país onde há momentos eleitorais distintos com uma regularidade que beneficia a democracia. Inevitavelmente, esses momentos eleitorais são precedidos de campanhas políticas por todos os partidos, mais ou menos intensas, mais ou menos prolongadas, mais ou menos dispendiosas, mais ou menos úteis. Todas têm um elemento comum – pouca atratividade.
(Quase) Ninguém gosta de campanhas políticas. Arruadas e comícios fazem o terror de quem está na rua. Nós, políticos, chegamos ao local onde está prevista a ação de campanha e somos recebidos, no mínimo, com belos instantes de revirar de olhos. A proporção de pessoas presentes nesse local que não se vai embora ou, ficando, não reage negativamente, é assustadoramente reduzida. Dentro desse grupo, aqueles que recebem calorosamente a comitiva que integra a ação de campanha são ainda menos.
De facto, um grupo de pessoas de t-shirts iguais, com bandeiras, folhetos, agora já nem há canetas, bloquinhos de papel e às vezes música é uma coisa que não interessa a ninguém. Discursos ensaiados, caras cansadas e respostas politicamente corretas são garantias nada apelativas. Então porque continuamos nós a fazer campanha assim?
Há muitas alternativas e há até algumas alterações que já foram introduzidas: as campanhas estão mais digitais, mais inovadoras, procura-se inserir novos formatos de eventos, convidar simpatizantes e organizar iniciativas apelativas a quem está alheio ao mundo da militância. No entanto, a campanha de panfletos continua a prevalecer. Grupos padronizados em que só muda a cor do material de campanha e nos quais eu me incluo (com o gosto que ainda tenho em andar na rua) que procuram falar com a população, necessariamente sem tempo para grandes esclarecimentos ou apresentações de conteúdo, mas que relembram que aquela força política existe, está ali, simbolicamente ao lado da população. É esta a forma ideal de se fazer campanha? Não, mas se não a fizermos assim, qual será a reação da população? Que já não querem saber, que estão para ali parados ou só querem saber da internet, que não falam com ninguém e que dá muito trabalho andar na rua. Estão distantes. É difícil encontrar uma nova via de campanha política que sirva a missão dos partidos e que em simultâneo não desfalque as expetativas da população. Gradualmente devemos, nós, as forças políticas, adaptar a campanha àquilo que dela é esperado e para isso é preciso ouvir exatamente enquanto fazemos campanha, aquilo que pensam de nós e do que fazemos. Na rua, acredito que é mais importante o que ouvimos que o que temos para dizer.
Afinal, ninguém gosta de campanhas políticas, mas sem elas saímos todos prejudicados – eleitos e eleitores.
(Nota final: Há de facto aqueles que gostam muito de fazer campanha e que compensam o cansaço pelo prazer imenso do contacto com a população. São poucos, mas existem e são muito valiosos pelo que acrescentam à qualidade da cena política. Deixo também uma nota aos pequenos partidos e movimentos recentes que obrigam os partidos tradicionais a “sair da caixa”, com vantagem para todos.)
Pode ler (aqui) todos os artigos de Leila Alexandre
______________________________________________________________________________________________________
As opiniões expressas nesse e em todos os artigos de opinião são da responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores, não representando a orientação ou as posições do Jornal de Mafra
______________________________________________________________________________________________________